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sábado, 9 de agosto de 2008

ZONA LESTE - O BERÇO " BUNGA"

         A SAGA DE BUNGA

O MENINO ...


A Vila Verinha, foi o berço de muitos personagens, que marcaram presença no cenário cultural e esportivo de Presidente Prudente. Verdadeiros heróis, pois numa época em que tudo era difícil, onde o mais comum, era vermos as pessoas se acomodarem e simplesmente esperar a vida passar, tinham aqueles que se valendo da criatividade, aos "trancos e barrancos", improvisavam alguma atividade visando o entretenimento de seus iguais.
Dentre estes heróis, vamos falar um pouco de Bunga filho de D. NESTINA.
              Bunga, cujo nome é José Fontes, tinha fixação por brinquedos grandes.
Seus trenós de grama, (brinquedos parecidos com patinetes de rolemãs, mas que ao invés de rodas tinham dois trilhos de madeira bem lisos), sempre cabiam quatro ou cinco garotos, enquanto dos outros, só cabiam o piloto. Os patinetes de rolemãs de "BUNGA", eram exagerados, transportavam vários garotos, mais pareciam composições ferroviárias, com vários engates. Até os papagaios, (pipas),tinham que ocupar mais de uma pessoa para empinarem. Eram tão grandes, que precisavam de linha de sapateiro para suportar a força, sendo necessário uma pessoa apenas para enrolar a carretilha, que mais parecia sarilho de poço. Quando "Bunga" ia soltar papagaio, sempre juntava uma multidão à sua volta. Ele fazia a pipa sumir nas nuvens. A curiosidade maior, era quando a mesma era recolhida, (não sei se era verdade), mas a pipa chegava desbotada, causado pela umidade das nuvens, afirmavam os mais "entendidos".
Certa vez, ele construiu um caminhão de madeira, medindo aproximadamente, quatro metros de comprimento. Era uma réplica do FNM ou ''fenemê'' como costumávamos chamar. Tinha uma cabine, direção e freios. Na cabine ele conduzia o "bruto" e ao lado, um privilegiado qualquer, que a seu critério, escolhia para acompanhá-lo, enquanto os demais garotos, empurravam o caminhão até o topo da ladeira.
-Atenção! Devagar... Já!!!
Todo mundo rapidamente pulava na carroceria do "baita", e na maior algazarra, fazendo com que os moradores ao longo da rua saíssem de suas casas para ver o que estava acontecendo. Tinha tanto moleque montado no caminhão, que era quase impossível identificar o objeto que os transportavam. Ao perceberem o que estava acontecendo, estes moradores, ficavam assistindo, sempre duvidando que o mesmo, conseguisse efetuar as manobras, na curva abaixo. Quase sempre, "Bunga", conseguia. Mas quando não dava? Era só moleque que voava para todo lado, numa gritaria infernal e o brinquedo, fatalmente iria parar dentro de alguma ribanceira, ou barranco;' Depois de uma rápida vistoria, caso o caminhão não tivesse sofrido nenhuma avaria importante e apresentasse condições de uso:
- Vamos de novo! Determinava o líder.
"Bunga", era assim mesmo. Não conseguia imaginar uma brincadeira, que não fosse coletiva.

O SAMBISTA


Dona "Nestina"(Ernestina Fontes), era uma mulher muito alegre e festeira, e quase sempre, promovia bailes em sua casa. Talvez por isto, "Bunga", tivesse adquirido aquele gingado, e conhecimento musical. Certa vez, ele fabricou um instrumento, de percussão (surdo), utilizando-se de um tambor de carbureto (produto utilizado em soldas) e uma pele de cabrito, que fez grande sucesso. Tanto, que logo seus amigos se interessaram, e seguindo suas orientações, também fizeram seus instrumentos. A partir dai, o grupo passou a realizar, sem nenhuma pretensão, batucadas nos fins de semana, às sombras dos pés de pinhão, que cercavam a casa do "Seu" Vicente, marido da Dona Glória, e de Zé Cachoeira marido de Dona Izautina( benzedeira) na chácara do "Albertão".
O grupo já estava bem afinado, e em virtude de Bunga estar sempre assoviando, Dona Nestina, sugeriu que o conjunto se chamasse, "Bico de Ouro" era assim que ela costumava brincar com ele. A sugestão, foi aceita por todos.
Talvez, pela facilidade de se encontrar o material necessário para o fabrico de instrumentos, já que na vila, moravam "Seu" Raul dos carneiros e ainda o pai do Valdemar "Carneiro", que criavam e matavam muitas cabras para vender as carnes, sendo que as peles por não ter valor comercial na época, eram jogadas fora. Além disso, em qualquer oficina, poderiam ser encontrados os tambores de carbureto, que eram usados na confecção dos instrumentos de percussão.
Conta José Pena ( primo de Bunga), que era muito garoto na época, mas se lembra que eles tinham uma estranha técnica de curtimento de couro. Primeiro, enterravam as peles, cobertas por um produto branco, que hoje ele acredita, ser cal , depois de algum tempo, eles desenterravam estas peles, e raspavam os pelos, para depois então, seca-las.
A turma foi crescendo de tal maneira, que eles resolveram fundar uma escola de samba.
Liderados pelo mestre "Bunga " , os amigos "Tião Macalé ", Tião Fundador, Paulo "beiço de ferro", "Rafa", "Bé", "Luizinho", "Jorjão"(Jorge Marcelino),Ademar Pantera; Otacilio, "Santão", Lindo Flor, Néo (Valdecir dos Santos) Nelson , "Dito da cuica"; "Zé Bolero";  Isaura Pena (que foi a primeira Porta-Bandeira de Presidente Prudente); além, de muitos outros, fundaram a Escola de Samba "Bico de Ouro", sendo a primeira a desfilar pelas ruas de nossa cidade.
O nome "Bico de Ouro", segundo depoimento de Cesar(Sebastião Fontes), irmão mais velho de Bunga, teria sido sugestão de D. Nestina, a Ademar Pantera, que apresentara a proposta, em virtude da mesma sempre brincar com seu filho Bunga, chamando-o de "menino do bico de ouro", por o mesmo estar sempre assoviando. Confirmando este fato, hoje Santão lembra que a proposta foi aceita por todos com grande "estardalhaço".
O sucesso foi tão grande, que a escola tinha que desfilar dentro de um quadrilátero de cordas, que sustentado por membros da comunidade, protegia-a da plateia que se aglomerava ao longo das ruas, por onde o desfile transcorria e as pessoas empolgadas pelo som, queriam se juntar ao grupo para sambar com as cabrochas.
Me lembro, que segurar a corda de isolamento era uma honra.
Os instrumentos mais comuns na época eram: Reco-reco, agogô, cuíca, apito, pandeiro, maraca, tamborim, surdo, contra surdo e frigideira. Muitos destes instrumentos, a maioria da população da cidade, desconhecia. Quem poderia imaginar que uma simples frigideira de cozinha, pudesse dar urn show? É... mas dava. O ritmista batia com ela no asfalto, intercalando com as batidas da baqueta, e isto dava um efeito todo especial. As garotas rebolando, passistas sambando. Era demais!!!
A partir dai, nunca mais, o carnaval de rua de Prudente, foi o mesmo. Pois todos os anos, o povo já esperava pelo desfile da Escola de Samba "Bico de Ouro”, que passou a ser a principal atração do carnaval da cidade. Isto fez com que, outras agremiações, fossem surgindo posteriormente. (Melhores detalhes, somente os "maiorais" da "Bico de Ouro", poderão contar, já que os fatos que narramos, são lembranças muito antigas e em virtude da pouca idade, podemos ter cometido alguma falha. Por isso, abrimos espaço aos fundadores e atuais diretores, para que façam deste informativo, os anais de sua história).
Posteriormente, Bunga veio a se afastar da Bico de Ouro, e só após muitos anos, voltou a participar de escolas de Samba, desta vez, como diretor de bateria da "MANDRAKES", só parando, alguns anos depois, quando, acometido que foi por forte nevralgia, impossibilitando-o de conduzir a bateria, já que na época, o apito era fundamental para a função.
Hoje, são usadas as batutas para se comandar as baterias, mas permanece em nossos ouvidos, o som dos apitos que eram um show à parte. Quando hoje, vejo um diretor de bateria com sua batuta, me vem a imagem orgulhosa de Bunga com seu apito.
1975 - Mestre Bunga comandando a Escola de Samba Mandrakes
da Vila Verinha

2 comentários:

Unknown disse...

Meus parabens!!!
Obrigada por este momento nostalgico, que vc está proporciando a muitas pessoas que viveram estes momentos.

Unknown disse...

Meus parabens!!!
Relembrar é viver.