02-12-2009- Sebastião Fontes recebendo das mãos de Eduardo Chezzini( Gringo) o Troféu de Honra ao Mérito por sua importante participação no Carnaval de Presidente Prudente |
A
Vila Verinha, foi berço de muitos personagens que marcaram presença no
cenário cultural e esportivo de Presidente Prudente. Verdadeiros heróis!
Pois numa época em que tudo era difícil, onde o mais comum, era vermos as
pessoas se acomodarem e simplesmente esperar a vida passar, tinham aqueles que
se valendo da criatividade, aos "trancos e barrancos", improvisavam
alguma atividade visando o entretenimento de seus iguais.
A SAGA DE BUNGA
O GAROTO
Dentre estes heróis, vamos falar
um pouco de "Bunga" filho de D. NESTINA.
Bunga, cujo nome é José Fontes, tinha fixação por brinquedos grandes. Seus trenós de grama, (brinquedos parecidos com patinetes de rolemãs, mas que ao invés de rodas tinham dois trilhos de madeira bem lisos), sempre cabiam quatro ou cinco garotos, enquanto dos outros, só cabiam o piloto.
Bunga, cujo nome é José Fontes, tinha fixação por brinquedos grandes. Seus trenós de grama, (brinquedos parecidos com patinetes de rolemãs, mas que ao invés de rodas tinham dois trilhos de madeira bem lisos), sempre cabiam quatro ou cinco garotos, enquanto dos outros, só cabiam o piloto.
Os patinetes de rolemãs de "BUNGA", eram exagerados, transportavam
vários garotos, mais pareciam composições ferroviárias, com vários engates.
Até
os papagaios (pipas),tinham que ocupar mais de uma pessoa para empinarem. Eram
tão grandes, que precisavam de linha de sapateiro para suportar a força, sendo necessária
uma pessoa apenas para enrolar a carretilha que mais parecia sarilho de poço.
Quando "Bunga" ia soltar papagaio sempre juntava uma multidão à sua
volta. Ele fazia o pipa sumir nas nuvens. A curiosidade maior era
quando o mesmo era recolhido, não sei se era verdade, mas o pipa
chegava desbotado, causado pela umidade das nuvens, afirmavam os mais
"entendidos".
Certa vez ele construiu um caminhão de madeira, medindo aproximadamente quatro
metros de comprimento. Era uma réplica do FNM ou ''fenemê'' como costumávamos
chamar. Tinha uma cabine, direção e freios. Na cabine ele conduzia o
"bruto", e ao seu lado, um privilegiado qualquer, que a seu
critério escolhia para acompanhá-lo, enquanto os demais garotos empurravam o
caminhão até o topo da ladeira.
- Atenção! Devagar... Já!!!
Todo mundo rapidamente pulava na carroceria do "baita" e na maior algazarra, fazendo com que os moradores ao longo da rua saíssem de suas casas para ver o que estava acontecendo. Tinha tanto moleque montado no caminhão, que era quase impossível identificar o objeto que os transportava. Ao perceberem o que estava acontecendo, aqueles moradores ficavam assistindo, sempre duvidando que o mesmo conseguisse efetuar as manobras na curva abaixo. Quase sempre "Bunga" conseguia. Mas quando não dava? Era só moleque que voava para todo lado, numa gritaria infernal e o brinquedo fatalmente iria parar dentro de alguma ribanceira, ou bater contra um barranco;
- Atenção! Devagar... Já!!!
Todo mundo rapidamente pulava na carroceria do "baita" e na maior algazarra, fazendo com que os moradores ao longo da rua saíssem de suas casas para ver o que estava acontecendo. Tinha tanto moleque montado no caminhão, que era quase impossível identificar o objeto que os transportava. Ao perceberem o que estava acontecendo, aqueles moradores ficavam assistindo, sempre duvidando que o mesmo conseguisse efetuar as manobras na curva abaixo. Quase sempre "Bunga" conseguia. Mas quando não dava? Era só moleque que voava para todo lado, numa gritaria infernal e o brinquedo fatalmente iria parar dentro de alguma ribanceira, ou bater contra um barranco;
Depois de uma
rápida vistoria, caso o caminhão não tivesse sofrido nenhuma avaria
importante e apresentasse condições de uso:
- Vamos de novo!
Determinava o líder.
- Vamos de novo!
Determinava o líder.
"Bunga" era assim mesmo. Não conseguia imaginar uma brincadeira, que
não fosse coletiva.
O ADOLESCENTE
Em meados da década de 60, “quando a “Brinc-dance” era o “ it” do momento, já
não se usavam barracas de bambus para se fazer os bailes, bastava alguém dar a
idéia e pronto: já estava marcado o endereço da próxima brincadeira dançante.
Era o auge da "Sonata" (toca discos que fazia
sucesso entre os jovens da época). Quase todos possuíam uma. Assim qualquer
um poderia realizar um baile em sua casa.
O Problema, eram os pais, que faziam tantas restrições que quase
sempre inviabilizavam os projetos da maioria dos garotos e meninas, uma vez
que esses bailes eram realizados nos espaços da sala da casa e qualquer
pessoa podia adentrar, independentemente de se conhecer ou não o dono da
casa. Mas era assim que tinha que ser, pois caso contrário haveria encrenca.
Um belo dia ao visitar Bunga, o que vejo?
Nada mais nada menos que Bunga e seu irmão César(Sebastião Fontes)que o
apoiava em todos os seus projetos, escavando por baixo da casa de sua mãe, que
era de madeira com um desnível para os fundos no terreno, fazendo uma
espécie de porão.
Escora
daqui, escora dali, Levanta a parede de tijolos ( Cesar tinha feito um curso de
pedreiro), e vai daqui, dali e pronto! A Vila Verinha já dispunha de uma
das primeiras "Discotecas" de Presidente Prudente.
Bunga
Inventou uma bola de isopor coberta de espelhos que girava e uma
lâmpada com seu foco de luz direcionada para ela dando aquele efeito de
luz nas paredes do salão.
A inauguração foi coisa de cinema. Tinha tanta gente, que ninguém conseguia
suportar o calor que fazia lá dentro. E quando a gente saia para respirar
um pouco, perdia a vaga.
Só sei dizer que foi um sucesso total!
O interessante é que mesmo depois
de tantos anos, Bunga ainda conserva este gosto ; pois até hoje*, ele realiza essas
brincadeiras dançantes em sua casa. O mais importante: Sempre
atualizado nos ritmos. Ao gosto da garotada.
O que
dizer de uma pessoa desta?
O SAMBISTA
Voltando um pouco no tempo, por volta de 1958, lembramos de Dona
"Nestina", mãe de Bunga.
Dona Nestina era uma mulher muito alegre e festeira e quase sempre promovia
bailes em sua casa. Talvez por isto, "Bunga" tivesse adquirido aquele
gingado e conhecimento musical.
Dotado que era de extraordinária criatividade, Bunga fabricou um
instrumento de percussão (surdo), utilizando-se de um tambor de carbureto
(produto utilizado em soldas) e uma pele de cabrito que fez grande sucesso.
Tanto, que logo seus amigos se interessaram e seguindo suas orientações também
fizeram seus instrumentos. A partir dai, o grupo passou a realizar sem nenhuma
pretensão, batucadas nos fins de semana, às sombras dos pés de pinhão, que
cercavam a casa do "Seu" Vicente, marido da Dona Glória, e de Zé
Cachoeira marido de Dona Izautina( benzedeira) na chácara do
"Albertão"(Alberto Artoni).
O grupo já estava bem afinado, e em virtude de Bunga estar sempre assoviando,
Dona Nestina sugeriu que o conjunto se chamasse "Bico de Ouro"
era assim que ela costumava brincar com ele. A sugestão foi aceita por todos.
Talvez pela facilidade de se encontrar o material necessário para o fabrico de
instrumentos, já que na vila morava "Seu" Raul dos carneiros e ainda
o pai do Ademar Silva( Demá Carneiro), que criavam e matavam muitas cabras para
vender as carnes, sendo que as peles por não ter valor comercial na época eram
jogadas fora. Além disso, em qualquer oficina poderiam ser encontrados os
tambores de carbureto, que eram usados na confecção dos instrumentos de
percussão. Conta José Pena ( primo de Bunga), que era muito
garoto na época, mas se lembra que eles tinham uma estranha técnica de
curtimento de couro. Primeiro, enterravam as peles cobertas por um produto
branco, que hoje ele acredita ser cal; depois de algum tempo, eles
desenterravam estas peles e raspavam os pelos, para depois então secá-las.
A
Turma foi crescendo de tal maneira, que eles resolveram fundar uma escola de
samba.
Liderados pelo mestre "Bunga " , os amigos "Macalé ", Tião Fundador, Paulo "Beiço de ferro", "Rafa", "Bé", "Luizinho", "Jorjão"(Jorge Marcelino); os irmãos Nelson e Otacílio, "Santão", "Lindo Flor", Néo (Valdecir dos Santos) /Valdemar "Pantera" , "Dito da cuíca",Ângela que veio a ser esposa de Bunga, Isaura Pena (que foi a primeira Porta-Bandeira de Presidente Prudente); além, de muitos
Liderados pelo mestre "Bunga " , os amigos "Macalé ", Tião Fundador, Paulo "Beiço de ferro", "Rafa", "Bé", "Luizinho", "Jorjão"(Jorge Marcelino); os irmãos Nelson e Otacílio, "Santão", "Lindo Flor", Néo (Valdecir dos Santos) /Valdemar "Pantera" , "Dito da cuíca",Ângela que veio a ser esposa de Bunga, Isaura Pena (que foi a primeira Porta-Bandeira de Presidente Prudente); além, de muitos
Mestre Sala Eusidinei dos Santos Porta Bandeira Maria Ap. Zanelli |
outros,
fundaram a Escola de Samba "Bico de Ouro", sendo a primeira a
desfilar pelas ruas de nossa cidade.
O sucesso foi tão grande, que a escola, tinha que desfilar dentro de um
quadrilátero de cordas, que sustentado por membros da comunidade, protegia a
escola da platéia que se aglomerava ao longo das ruas, por onde o desfile
transcorria e as pessoas empolgadas pelo som, queriam se juntar ao grupo para
sambar com as cabrochas.
Me lembro, que segurar a corda de isolamento era uma honra.
Me lembro, que segurar a corda de isolamento era uma honra.
Os instrumentos mais comuns na época eram: Reco-reco, agogô, cuíca, apito,
pandeiro, maraca, tamborim, surdo, contrassurdo e frigideira. Muitos destes
instrumentos, a maioria da população da cidade, desconhecia. Quem poderia
imaginar que uma simples frigideira de cozinha, pudesse dar um show? É...
Mas dava. O ritmista batia com ela no asfalto, intercalando com as batidas da
baqueta, e isto dava um efeito todo especial. As garotas rebolando, passistas
sambando. Era demais!!!
A partir dai, nunca mais, o carnaval de rua de Prudente, foi o mesmo. Pois
todos os anos, o povo já esperava pelo desfile da Escola de Samba "Bico de
Ouro”, que passou a ser a principal atração do carnaval da cidade. Isto
fez com que, outras agremiações, fossem surgindo posteriormente.
(Melhores detalhes, somente os "maiorais" da "Bico de
Ouro", poderão contar. Por isso, abrimos espaço aos fundadores e atuais
diretores, para que façam deste informativo, os anais de sua história.
1978 - João Fornalha- Bunga - Marinheiro |
Posteriormente, Bunga, veio a se afastar da “Bico de Ouro” e só após muitos
anos, voltou a participar de escolas de Samba, desta vez,
como diretor de bateria da "MANDRAKES", só parando, alguns anos
depois, quando, acometido que foi por forte nevralgia, Impossibilitando-o de
conduzir a bateria, já que na época, o apito era fundamental para a função.
Hoje, são usadas as batutas para se comandar as baterias, mas permanece em
nossos ouvidos, o som dos apitos que era um show à parte. Quando hoje, vejo um
diretor de bateria com sua batuta, me vem a imagem orgulhosa de Bunga com seu
apito.
·
Esta
crônica foi publicada pela 1ª vez por este autor, no ano de 1998 pelo Jornal “A voz do Samba” de
Pres. Prudente. Bunga faleceu no
dia 17.07.2010
fim